DISCRETAS DISTOPIAS [OPINIÃO] (2024):

Sombrionauta
14 min readFeb 17, 2024

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SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO [FILME] (2023); POBRES CRIATURAS [FILME] (2023); ILÚ OBÁ DE MIN [DESFILE DE CARNAVAL] (2024), BOB MARLEY: ONE LOVE [FILME] [2024).

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Introdução.

A esquerda é ruim de crítica cultural. Porque não sabe fazer produtos culturais para mídia. A justificativa por trás disso é que ela não tem os meios de produção para compor tais produtos, logo, não conseguiria pensar empiricamente o que está sendo feito.

Estranho isso, porque temos bons artistas e cineastas assumidamente de esquerda, desde COSTA-GAVRAS (1933) até o pessoal do RAGE AGAINST THE MACHINE (1991–2024). Logo existe gente de esquerda, que tem produção artística de massa, e ainda, lucrativa. Logo as alegações de alguns de que a “população mais simples não entende” são meio furadas.

EU MESMO JÁ PASSEI UM FILME DO COSTA-GRAVAS PARA UMA MOÇADA JOVEM E ELES GOSTARAM MUITO.

Claro que é preciso mediar esse tipo de produção. Por que? Porque ela critica e coloca em questionamento um dos grandes backups do Irmão-Capitalismo, a cultura, que nego confunde com ideologia. Aqui é onde está localizada a origem das contrarrevoluções, mais do que na economia, porque revoluções geralmente se dão em crises econômicas. Assim que os revolucionários estabilizam tais economias, são atacados justamente por gente que é portadora/dominada por tal cultura conservadora elitista.

OS CHINESES ENTENDERAM BEM COMO COMBATER ISSO. E TAMBÉM OS CUBANOS.

Logo a militância cultural também parte do princípio de questionar os produtos culturais e entender bem o que eles se pretendem enquanto finalidade, e também que ninguém recebe passivamente uma cultura adversa da sua. E que algumas culturas, notadamente as populares são dotadas de uma ironia brutal, porque compreendem como o discurso patronal é uma furada sem tamanho. É isso que JONAS MANOEL (1990) E IAN NEVES (?) não entenderam em suas críticas à GEORGE ORWELL (1903–1950), nem tanto sobre REVOLUÇÃO DOS BICHOS (1945), e sim sobre obra 1984 (publicada em 1949) .

Eles não entenderam que não são livros “sérios”, no sentido de que creem no que descrevem, e sim, obras de crítica ao cotidiano, ao comum que estava tentando se impor sobre as populações pobres e trabalhadoras. Que a luta contra o sistema em sua versão cultural é travada no estilo em que se narra a vida cotidiana, uma tentativa de “normalização” pelo lado de cima.

AS 4 PRODUÇÕES QUE USO AQUI SÃO TENTATIVAS DE NARRAR O COTIDIANO DE MANEIRA DISCRETAMENTE POLÍTICA.

Essa opinião é sobre isso.

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DONAS DE CASA NADA DESESPERADAS.

Eu aprecio muito como o Irmão-Sistema sabe narrar bem a vida de donas de casa. Porque ele dominou como apresentar o terrível fardo de ser acúmulo primitivo de capital de maneira bela. Quase como narra um suicídio de maneira bela, como ele faz muito bem em filmes de guerra, tais como TOP GUN: MAVERICK [FILME] (2022) [ [ https://sombrionauta.medium.com/top-gun-maverick-filme-2022-426cd73687be ]. Dominou, pois ele faz uma coisa muito boa nesse tipo de narrativa:

APRESENTA AS DONAS DE CASA E ESPOSAS COMO PASSIVO-AGRESSIVAS.

Assim o cotidiano do lar não parece ser mais um antro de dominação da masculinidade tóxica, e sim, um local de poder ginocentrado.

TODA A TEORIA DOS REDPILLS (2010(?)) É BASEADA NESSE TIPO DE PRODUÇÃO.

Aqui está minha crítica à esquerda: ela não pensa que este tipo de filme, baseado não oficialmente em um caso real é a base da visão cultural desse tipo de movimento.

POR QUÊ? PORQUE É VERDADE.

As perguntas que não estamos fazendo, e que importam de fato são:

ESSE CASO É A REGRA, A EXCEÇÃO, OU A EXCEÇÃO QUE CONFIRMA A REGRA? MAS VAMOS POR ORDEM.

Seguimos aqui a atriz Elizabeth Berry (Natalie Portman) que está tentando fazer uma pesquisa para seu próximo filme, um biografia acerca de uma mulher chamada Gracie Atherton-Yoo (Julianne Moore), que já idosa se relacionou extra-matrimonialmente com um jovem menor de idade Joe Yoo (Charles Melton).

Berry pretende conviver com eles algum tempo para entender o que os levou a tal relacionamento, e mais importante, como esse casamento se manteve entre os dois, apesar de tantos percalços.

O que dá entender diretamente, é que ambos se amavam, e que seguindo o padrão costumeiro, como Gracie é a esposa, logo a “responsável” pelo bem do casamento o mérito é dela.

AQUI ESTÁ A REGRA: MULHERES SÃO AS QUE ZELAM PELO CASAMENTO, E SE ELAS DECIDIREM QUE DEVEM TERMINAR, O MESMO DEVE ACONTECER.

Tal regra nos faz desatentos nos detalhes do que aconteceu e o filme quer nos mostra justamente isso, ao narrar o cotidiano do casal e de seus filhos.

Vou mostrar o que o filme faz da seguinte forma: vou repetir sempre um trecho acima inserindo mais detalhes.

Seguimos aqui a atriz Elizabeth Berry (Natalie Portman) QUE É MEDIOCRE, POP E INSEGURA e que está tentando fazer uma pesquisa para seu próximo filme TÍPICO FILME SENSACIONALISTA DE ARTE ESTADUNIDENSE; um biografia sobre uma mulher chamada Gracie Atherton-Yoo (Julianne Moore), MULHER BRANCA ESTADUNIDENSE E JÁ COM MAIS DE 30 ANOS que já idosa se relacionou extra-matrimonialmente com um jovem menor de idade DE CERTA DE 13 ANOS, COREANO Joe Yoo (Charles Melton).

Aqui está a exceção: ser uma mulher. Geralmente esse tipo de caso é protagonizado por homens brancos e mulheres jovens de outras etnias. Assim vemos que as relações de poder ligadas ao gênero estão fragilizadas e nos mostram como nem tudo é tão bem explicado apenas pelo argumento “mulher adulta se relaciona com jovem”.

Não que o argumento não seja verdade, ele apenas exclui detalhes da biopolítica de poder, logo, assumimos um ideal romântico, que o filme não faz questão de sustentar, mas que ficamos tentado a assumir.

E FINALMENTE A EXCEÇÃO:

Seguimos aqui a atriz Elizabeth Berry (Natalie Portman) QUE É MEDIOCRE, POP E INSEGURA, TENDO UMA INVEJA CADA VEZ MAIOR DE SEU PERSONAGEM E que está tentando fazer uma pesquisa para seu próximo filme TÍPICO FILME SENSACIONALISTA DE ARTE QUE FINGE QUE QUESTÕES DE CLASSE SOCIAL SÃO APENAS ACASO E FENOMENOLOGIA; um biografia sobre uma mulher chamada Gracie Atherton-Yoo (Julianne Moore), MULHER BRANCA ESTADUNIDENSE E JÁ COM MAIS DE 30 ANOS, ALÉM DE PATROA DE CLASSE MÉDIA ALTA E MAIS ESTUDADA que já idosa se relacionou extra-matrimonialmente com um jovem menor de idade DE CERCA DE 13 ANOS, COREANO, SEU EMPREGADO, SEM GRANDE MATURIDADE Joe Yoo (Charles Melton).

AQUI ESTÁ A REGRA QUE CONFIRMA A EXCEÇÃO: UMA MULHER COM PODER PODE EXCERCER A MASCULINIDADE TÓXICA SOBRE HOMENS DE OUTRAS ETNIAS ? OU SENDO MAIS PRÁTICO: PODE EXERCER PODER ECONÔMICO.

Pobres REDPILLS: procurando na esquerda, algo que na verdade está na direita mais conservadora, quase uma extrema-direita passivo agressiva.

POBRE ESQUERDA PROCURANDO EXPLORAÇÃO DE CLASSE TRABALHADORA EM MULHERES DA CLASSE DOMINANTE.

SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO [FILME] (2023)) — TITULO ORIGINAL:May December — DURAÇÃO : 117 min— NACIONALIDADE : E.U.A. — DIRETOR: Todd Haynes — ROTEIRISTA Samy Burch: — DISPONÍVEL (ATÉ O MOMENTO DA PUBLICAÇÃO):CINEMA.

SHELLEY NÃO…WEBER.

Matrimônio como expressão de poder da mulher sobre os homens não é exatamente uma novidade, pelo menos como conceito sociológico. Quem explicou, e viveu, bem isso foi MARIANNE WEBER (1870–1954) esposa, e editora póstuma de MAX WEBER (1864–1920), aquele sociólogo alemão que o JONAS MANOEL não gosta, mas que é uma das bases daquele melhor crítico da indústria cultural, o MARCUSE (1898–1979), grande responsável pela CONTRACULTURA das décadas de 1970.

ISSO EXPLICA ELE NÃO SER MUITO BOM DE CRITICAR CULTURA DE MASSA.

A questão é que WEBER (MAX) foi um dos melhores críticos do MARX (1818–1883), porque não ficou dizendo que o Mouro estava errado, e sim, que estava certo, mas incompleto e que deveria levar em conta também o pensamento cultural como parte de reprodução material do poder do Capitalismo.

MARIANNE PENSAVA QUE ESSA REPRODUÇÃO MATERIAL VIRTUAL ESTAVA A CARGO DAS MULHERES, PRINCIPALMENTE NO CASAMENTO.

Perceba que ninguém chamou o ENGELS (1820–1895) para essa discussão, e se chamasse, ela acabaria.

NESSA DELICIOSA COMÉDIA BIZARRA ERÓTICA, TEMOS UMA ESPÉCIE DE BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA DE TIPO IDEAL BEM DIVERTIDO: A FEMINISTA LIBERAL.

Inspirada no romance POOR THINGS: EPISODES FROM THE EARLY LIFE OF ARCHIBALD MCCANDLESS MD, SCOTTISH PUBLIC HEALTH OFFICER (1992) de ALASDAIR GRAY (1934–2019), temos estilo de narrativa que me agrada muito, a que combina ficção científica, surrealismo e fantasia, com belos toques de política não partidária.

Nessa hilária e quase pedófila (pelo julgamento feito por algumas feministas radicais acerca de personagens femininos infantis sexualizados, é pedófila sim) seguimos uma mulher chamada Bella Baxter (Emma Stone), uma espécie de neo-noiva de monstro de Frankenstein, uma criança do sexo feminino em um corpo de mulher adulta, que em dado momento pensamos se tem alguma deficiência cognitiva, e depois descobrimos que sim, as feministas radicais estão certas.

EU PODIA DAR SPOILER AQUI. MAS A GRAÇA É: SE VOCÊ JÁ ASSITIU E ENTENDEU O QUE DISSE: COMO FOI ACHAR ENGRAÇADO AQUELE TIPO DE PIADA SEXUAL? E SE NÃO ASSISTIU, DEPOIS DESSA FALA MINHA, NÃO VAI RIR TÃO FÁCIL.

Bom, sentido artístico é muito influenciado pela sociedade circundante e os materiais intelectuais disponíveis, não é?

Seguindo.

Baxter em verdade é um experimento de um médico cientista (nem todo o médico é cientista, convém lembrar) chamado Dr. Godwin “God” Baxter (Willem Dafoe).

A sacada é entender essas pequenas piadas: Baxter em verdade vai seguindo toda “narrativa ideal” de que o socialismo (qual? eu não sei) faz de uma mulher feminista, passando por filha dedicada, adolescente pornificada, jovem seduzida e bancada por um “sugar daddy”, prostituta por “experiência forçada” (sobrevivência), lésbica eventual até ser….

MULHER CASADA CUJA AMANTE É A EMPREGADA NEGRA; TUDO CONSENTIDO, SABIDO E ACEITO, COMO TODA A RELAÇÃO PROMÍSCUA TIDA COMO DECENTE ENTRE OS RICOS SEMPRE É. QUEM ACREDITA EM ROMANTISMO É POBRE. SÉRIO. E PELOS MOTIVOS MAIS MATERIALISTAS HISTÓRICOS POSSÍVEIS.

Perdão, isso foi um spoiler. Ou não. Basicamente esse tipo de coisa parece acontecer muito com as jovens advindas da classe dominante, seu período “selvagem” e depois seu retorno a casa paterna e à sua herança, e finalmente uma vida intelectual tranquila e uma morte sem grandes percalços.

EM PARTE, FOI ISSO QUE ACONTECEU COM A WEBER.

Enfim, feminismo é para todas, mas nem todos os feminismos são para as pobres, aprendam.

PORQUE NENHUM FEMINISMO HONESTO PODE NEGAR CLASSES SOCIAIS. E SE NEGA? BEM, PERGUNTE A JOVEM SOCIALISTA NEGRA DO FILME TOINETTE (SUZY BEMBA)

POBRES CRIATURAS [FILME] (2023)) — TITULO ORIGINAL:Poor Things— DURAÇÃO :141 min — NACIONALIDADE :Irlanda, Reino Unido, Estados Unidos— DIRETOR: Yorgos Lanthimos — ROTEIRISTA Tony McNamara: — DISPONÍVEL (ATÉ O MOMENTO DA PUBLICAÇÃO):CINEMA.

UMA DAS TERCEIRAS MÃOS DE XANGÔ.

Então parece que os feminismos e femininos tradicionais estão em alta nesses tempos atuais. Tem suas vantagens e valores nisso. Recentemente percebi isso, quando estava na escola e um casal divertido e insólito de professores, Thiago e Juliana me falaram do ILÚ OBA DE MIN (2004), em seu braço, ou braços musicais.

É uma entidade de valorização dos valores afro-civilizacionais, fundada pelas percussionistas Beth Beli (1968?), Girlei Luiza Miranda (1962) e Adriana Aragão (?), cuja madrinha é a deputada estadual e membro do PC do B, sambista LECI BRANDÃO (1944).

Tal instituição segue uma proposta bem explicada por seu próprio nome, ou seja serem “Mãos femininas que tocam tambor para Xangô”. Seu nome está ligada à orixa Oba, cujas influencias abrangem o barro, água parada, lama, lodo e as enchentes, sendo ligada à fúria e impetuosidade femininas, quase uma versão masculina do orixá dos trovões, Xangô, o qual foi umas das esposas, que por sinal educadamente exigiu que se casasse com ela ou morresse.

MULHER BRAVA. GOSTO DELA.

Porém Xangô tende a ser meio namorador e depois veio a ter outros relacionamentos., Oba meio que ficou “ok, valeu” e continuou sua vida, pois não era submissa.

ESSE ASPECTO É BEM INTERESSANTE: FEMININOS SAGRADOS QUE NÃO SÃO NECESSARIAMENTE LIGADOS A SUBSERVIÊNCIA AO MASCULINO.

Em verdade ela parece ser a um aspecto dividido em três da esposa desse Orixá.

Esse bloco de samba escolhe Oba em seu nome, justamente porque ela pune os homens que vem a ser violentos com mulheres e em certa medida me lembrou a personagem Nanisca do MULHER-REI [FILME] (2022). Então a proposta desse bloco e da instituição por trás dele é o empoderamento feminino por meio da violência musical, ou seja, tocar tambores.

OK, SE VOCÊ ACHOU QUE “VIOLÊNCIA” É ALGO PEJORATIVO, É PORQUE NUNCA TOCOU UM TAMBOR.

Tocar bateria é uma das coisas mais interessantes e libertadoras. Aprender ritmo e força, e violência, que não visão machucar o mundo, e sim, literalmente, tocá-lo. Eu fui acompanhar o Bloco em seu trajeto pela Praça da Republica, Av. Sao Luis, R. da Consolação , R. Cel. Xavier de Toledo, Praça Ramos, R. Conselheiro Crispiniano, Largo do Paissandu no dia 09/02/2024.

São cerca de 400 0 integrantes que compõem bateria, corpo de dança e pernas de pau. A maioria esmagadora é de mulheres e os pernas de pau representam dos diversos orixás. É realmente um evento único acompanhar esse tipo de espetáculo de rua pois pode te levar a entender muita coisa de como da estrutura musical ocidental pop.

Eu estava parado assistindo o começo do bloco e aí se percebe enquanto caminham como nossa musicalidade tenta emular um desfile musical: caso fiquemos parados e prestarmos atenção no caminhar dos músicos, iremos perceber perfeitamente como a estrutura musical introdução — desenvolvimento e finalmente conclusão, percebe que é uma tentativa de reproduzir a experiência de alguém parada assistindo tal desfile.

Fiquei muito impressionado como tudo aquilo era bem ensaiado e como em dado momento parecia fora de ritmo, mas quem na verdade estava perdido era eu: esse tipo de espetáculo deve ser apreciado pela participação, mais do que meramente assistido, logo eventualmente percebi que o que parecia fora de ritmo para mim, era a preparação para uma nova sequência de toques. Sublime. Mas não aquele meio chato dos alemães, sendo mais algo como “caramba, parecia estranho porque eu não estava dançando direito”.

Houveram algumas cenas de violência, desagradável e de agressão e roubo, contudo, essa parece ter ido a tônica nos carnavais no Brasil pelo descaso coletivo e aparentemente unânime de todos os partidos políticos brasileiros que gestavam a organização das comemorações país afora.

PARECE QUE OBA TEM DE MOSTRAR MAIS EXIGENTE PARA COM O MUNDO ATUAL, E NÃO ESPERAR QUE XANGO SE MOVIMENTE PARA ISSO.

ILÚ OBÁ DE MIN [DESFILE DE CARNAVAL] (2024) — TITULO ORIGINAL:ILÚ OBÁ DE MIN [DESFILE DE CARNAVAL] (2024) — DURAÇÃO :120 min — NACIONALIDADE :Brasil — RESPONSÁVEIS:Beth Beli , Girlei Luiza Miranda e Adriana Aragão — INDISPONÍVEL.

DEMOCRADURA?.

A CONTRACULTURA (década de 1960) era um movimento muito interessante porque tinha várias coisas conservadoras, principalmente essa noção de buscar a religiosidade do mundo antigo.

ASSIM COMO O NAZISMO (1919–1945).

Essa busca da ancestralidade neo-pagã tende a não fazer algumas perguntas, tais como “não foi de uma linha de pensamento assim que surgiu o Capitalismo?”, ou, “ok, tem certeza que esse negócio de reis e imperadores, mesmo negros, é uma boa?”

SER CONTRA O IMPERIALISMO E FAZER EXCEÇÕES SEMPRE É COMPLICADO.

Por outro lado, muito da CONTRACULTURA, veio a questionar o status quo político, e por isso essa busca neo-pagã, o que pode produzir espiritualidades mais conscientemente politizadas de que a resposta para o presente capitalista não é o passado machista e imperialista do mundo antigo, sendo que a questão de “inferno” e mais um encontro de si consigo mesmo. Em certa medida, em termos fílmicos a resposta a isso foram produções tais como HELLRAISER [FILME] (2022).

GRANT MORRISON (1960) abordou bem essas novas formas de espiritualidade em OS INVISÍVEIS (1994–2000) demonstrando que elas se desenvolveram muito desde a década de 1960 e nem todas foram cooptadas, ou mesmo derrotadas, pelo Irmão-Capitalismo.

NÃO FOI O QUE ACONTECEU AQUI.

Nessa biografia somos apresentados ao reggaeman Bob Marley (Kingsley Ben-Adir) sem que entendamos muito a importância de BOB MARLEY (1945–1981) o cantor e ativista jamaicano. É um filme que tenta emular dramas políticos como TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE (1976) sem fazer uma coisa fundamental:

APRESENTAR A ECONOMIA POLÍTICA QUE ESTÁ PROVOCANDO A EXISTÊNCIA DE MARLEY.

Tudo é muito genérico e as vezes lembra o tipo de filmografia sobre a negritude apresentada nos filmes da franquia PANTERA NEGRA (2018–2022), só que, acreditem ou não, essa produção da MARVEL STUDIOS (1993) / DISNEY (1923) conseguem ser muito melhor na sua discussão sobre política e conflito racial.

Porque falta nesse filme o que existe nos PANTERAS NEGRAS:

UM ERIK KILLMONGER, OU MELHOR, PENSAMENTO REVOLUCIONÁRIO NEGRO.

O ápice do filme é logo no começo quanto assistimos o atentado a bala feito contra BOB MARLEY em 03/12/1976, e as repercussões sobre isso.

AÍ É QUE ESTÁ O PROBLEMA: PORQUE DIABO A JAMAICA ESTÁ NAQUELA CONFUSÃO TODA?

Em nenhum momento o filme vai discutir que tamanha instabilidade política é resultado do processo de colonização inglesa inglesa que tinha terminado apenas em 06/08/1962. Então temos toda uma série de forças políticas disputando a hegemonia ali.

Tudo o que o filme precisava fazer era uma introdução típica de dramas políticos ou filme de ação distópicos como CYBORG — O DRAGÃO DO FUTURO (1988), onde alguém, podia ser o ZIGGY MARLEY (1968), um dos produtores e filho de MARLEY, iria apresentar os resultados dessa colonização e porque o RASTAFARIANISMO (1930) era importante, mais como movimento radical revolucionário e coesão da população preta, do que exatamente mais uma religião cristã.

ESTAMOS ENTREGANDO NOSSOS MUNDOS POLÍTICOS CADAS VEZ MAIS AS RELIGIÕES, COMO BEM DESTACOU GEORGE ORWELL EM A REVOLUÇÃO DOS BICHOS.

Também não se explica que o próprio MARLEY tinha sido membro daquelas gangues, um RUDE BOY, termo que era usado para jovens jamaicanos delinquentes, e que criaram grande parte da musicalidade SKA e ROCKSTEADY.

Ouvir as músicas de MARLEY, no filme é perceber que é muito semelhante a musicalidade proposta posteriormente pelo RAP (1970), também, acreditem, de origem jamaicana.

O FILME NÃO QUER DISCUTIR ISSO.

Porque a produção quer fazer apologia ao tipo de mulher que foi discutido nas três produções anteriores:

A MATRONA: O FILME TODO É UMA HOMENAGEM A SUBSERVIÊNCIA, PERDÃO, RESILIÊNCIA DE RITA MARLEY À SEU MARIDO.

O Capitalismo está se refazendo mais uma vez, usando as mulheres matronas, negras ou não, como base para reconstruir o machismo.

Esse tipo ideal de mulher não é a favor da revolução de esquerda, porque ela tende a rediscutir os papéis de gênero, e também, a questão da maternidade como aconteceu em Burkina Faso, por meio do movimento organizado por THOMAS SANKARA (1949–1987), que por sinal foi homenageado pelo cantor de reggae ALPHA BLONDY (1953), inventor do termo “democrature”, uma espécie de combinação entre as palavras “democracia e ditadura”.

Não é uma ironia, que os ideias que tanto prezamos, feminismo, negritude, empoderamento da mulher negra, estejam sendo usados para implantar em meio a nós um novo matronado, que irá criar um novo patriarcado? Quem poderia ter pensado nisso, de que nossos ideais seriam ser usados contra nós?

GEORGE ORWELL, NOTADAMENTE EM REVOLUÇÃO DOS BICHOS.

Pobres meninos ricos de esquerda com ideais comunistas. Lhes falta sair debaixo da asa de suas mães.

BOB MARLEY: ONE LOVE [FILME] (2024) — TITULO ORIGINAL:BOB MARLEY: ONE LOVE — DURAÇÃO :107 min — NACIONALIDADE : Jamaica, Estados Unidos — DIRETOR: Reinaldo Marcus Green — ROTEIRISTA : Zach Baylin, Frank E. Flowers, Terence Winter— DISPONÍVEL (ATÉ O MOMENTO DA PUBLICAÇÃO):CINEMA.

POST SCRIPTUM

Esse tipo de coisa já havia sido discutida por dois quadrinhistas, FRANK MILLER (1957) em sua obra LIBERDADE (1990) onde acompanhamos uma militar negra MARTHA WASHINGTON nascida em 1995, justamente em Cabrini-Green, bairro do doce CANDYMAN e sua participação num exército estadunidense distópico.

Também ALAN MOORE (1953) o V do Batman de MILLER também escreveu sobre distopias envolvendo mulheres militares, no caso em particular, A BALADA DE HALO JONES (1984–1985) cujo projeto inicial era narrar a vida da militar Halo Jones até sua terceira idade…

PERAÍ… O MILLER PLAGIOU O MOORE?

Boa pergunta. Acho que mais do que isso queria fazer a sua versão de direita.

VAMOS APRENDER COM MILLER, JOVENS DE ESQUERDA QUE NÃO LEEM DISTOPIAS E IMITAR O MOORE?

Se gostou desse texto, 50 palmas serão bem-vindas e agradecidas.

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Sombrionauta

Arcano Oliveira (André Moreira Oliveira) Historiador da cultura especializado em cultura pop. Podcaster do O Sombrionauta (um tanto lógico isso).