JOGOS DE PODER [FILME] (2019):

Sombrionauta
4 min readAug 24, 2021

--

Meninos ricos e mimados não regem nações.

Se tem algum cineasta que acredita mais nos professores do que o Costa-Gravas (1933), eu não fui apresentado.

Para o diretor grego (um dos poucos pensadores gregos que eu realmente aprecio) de esquerda os professores são agentes de transformação da sociedade, sendo eles corruptos ou não, como em seu filme anterior, CAPITAL (2012), demonstra.

Sendo assim ele acredita no poder da educação, na capacidade de leitura do mundo pelo intelecto, na síntese entre desejo e conhecimento feita pela razão. Seus filmes demonstram que os profissionais da educação são pessoas que realmente podem afetar a sociedade em que estão inseridos, e mais, desejam fazê-lo.

COSTA-GRAVAS ACREDITA ENTÃO NUMA PARTE DA BUROCRACIA DE ORIGEM ESTATAL, E NA SUA CAPACIDADE DE MUDAR O MUNDO, SEJA, PARA MELHOR OU PARA PIOR.

Mas não é uma crença alimentada por achismos, por piedade, ou truísmos; estes precisam sem comprovados como reais, e isso, revela suas limitações.

Com esse filme, Costa-Gravas nos mostra os limites dos professores, quando alçados a cargos de poder e gestão dentro de suas respectivas instituições: o poder real das mesmas

Baseado no livro ADULTS IN THE ROOM: MY BATTLE WITH EUROPE’S DEEP ESTABLISHMENT (2017) do professor universitário marxista de economia, e, ministro da economia de 27/01/2015 à 06/07/2015 da Grécia, Ioannis “Yanis” Varoufakis (1961).

No filme ele é vivido pelo ótimo ator Chistos Loulis , narrando e este curto ministério a partir de suas memórias sobre o acontecido.

As façanhas desse professor, então, são restringidas pelo que a gestão dessas organizações tem força para garantir que seja feito. Mesmo que sejam países, mesmo que seja a Grécia, mesmo que seja um governo de Esquerda.

Mas, qual a tese de Costa-Gravas, e aparentemente de Yanis, nessa obra?

QUE NENHUM GOVERNO DE ESQUERDA OU DE DIREITA TEM CHANCES PERANTE O CAPITALISMO FINANCEIRO, NEM MESMO COM APOIO POPULAR MACIÇO

[SIGA LENDO A PARTIR DAQUI SE VOCÊ VEIO DO INSTAGRAM]

Costa-Gravas é um defensor de revoluções, convém lembrar, logo ele não acredita em coexistência tranquila entre capitalismo e proletariado.

RESUMINDO O ACIMA EXPOSTO: ELE NÃO ACREDITA NA VALIDADE DO POPULISMO COMO UM TODO, SENDO ELE DE ESQUERDA OU DE DIREITA.

Sua narrativa, como sempre, apresenta dos donos do capital e seus empregados diretos como tolos, fantoches de seus desejos mais vis, infantis e sempre prontos a sacrificar milhões (de pessoas, nunca de dólares ou euros) em nome não de lucro, mas sim de seus caprichos.

UM CAPITALISTA, POR TER ACESSO A LUCRO QUASE INFINITO, JAMAIS VAI SENTIR A NECESSIDADE DE FICAR ADULTO.

Quem tem que ficar maduro é o proletariado, justamente ao aceitar que os que os dominam não têm motivos para o ser.

Então o filme nos mostra como Yanis tenta, desesperadamente, usando inteligência, mídia e boas intenções, chanceladas por um político de esquerda bem visto na comunidade internacional e apoiado por seu povo, tirar seu país de um plano econômico horrível e que irá esmagar todas as chances de sua população se reerguer durante décadas.

NADA DISSO VAI FUNCIONAR.

Indo contra a atual corrente de opinião, Costa-Gravas nos mostra, ainda, que a mídia é útil e limitada, e que, apesar de sua capacidade comunicativa global, não detém o que é de fato poder, ou seja, Estados Capitalistas Centrais.

PORQUE NO FINAL, O QUE SE NEGOCIA NÃO É HUMANIDADE OU DINHEIRO, E SIM, QUEM TEM PODER PARA REPELIR UMA ATAQUE MILITAR DESTES ESTADOS CAPITALISTAS.

Yanis revela como o FMI e outras instituições, compostas de economistas incompetentes, rentistas fracassados e idiotas, governam as relações financeiras mundiais para o Capitalismo, justamente por serem incompetentes, fracassados e idiotas:

SE FOSSEM COMPETENTES, SERIAM FUNCIONÁRIOS DE CARREIRA ESTATAIS, TAIS COMO PROFESSORES.

[SIGA LENDO A PARTIR DAQUI SE VOCÊ VEIO DE OUTRAS PLATAFORMAS]

Sendo assim, estes empregados da iniciativa privada, se orientam por paixões baratas, por detalhes ridículos, por vírgulas e palavras em memorandos, entendendo que o dinheiro do patrão é seu dinheiro.

Uma das cenas que mostra isso é quando um dos líderes da Troika, apelido dado pela mídia, para designar o grupo de decisão formado pela Comissão Europeia (CE), o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), Jeroen (Daan Schuurmans) perde a paciência com Yanis sobre como dever ser feito um pequeno comunicado à imprensa.

Tudo isso é ridículo, mas tudo isso é importante para esses birrentos homens com altos salários.

Aqui está o centro do filme e do problema: não há “adultos” nas salas de liderança e gestão do Capitalismo. Para o Sistema, tudo vai bem, então ele vai continuar com sua horrenda e infantil expropriação sobre os povos do mundo.

Logo, apelos humanitários a esse tipo de gente são tolos e ainda mais grotescos do que eles próprios.

E as políticas dos Estados perante essas pessoas?

As políticas nacionais, democráticas e populares não têm o alcance necessário para fazer o que prometem, logo, sobram para elas serem oníricas, esperançosas e fantasiosas.

OU SEJA, SEM LIMITES, E RESUMINDO, INÚTEIS.

Mas Costa-Gravas é ainda alguém que acredita em revolução: limitada, nacional e de esquerda, logo, acredita em grandes coisas pequenas, como o povo grego.

DIFÍCIL NÃO SIMPATIZAR E SE IRRITAR COM ESSE MALDITO GREGO IRADO COM DEUSES QUE NÃO SÃO OS SEUS.

Se gostou desse texto, 50 palmas serão bem-vindas e agradecidas.

--

--

Sombrionauta

Arcano Oliveira (André Moreira Oliveira) Historiador da cultura especializado em cultura pop. Podcaster do O Sombrionauta (um tanto lógico isso).