O COLETOR DE TAXAS [FILME] (2020):

Cada vez mais fica clara a relação entre os estados-nacionais, os sistemas de tráfico de drogas e a organização da família tradicional de tipo patriarcal. Isso porque todas elas se baseiam em procedimentos de organização lastreados pela violência e por uma espécie de fidelidade coercitiva baseada em vínculos de parentesco. Tudo muito centrado senhor de engenho, figura que era o vértice do modo econômico que organizou a maior parte da América como continente.

Esse sistema derivado do brutal e agressivo sistema das monarquias tem como unificador/legitimador o imaginário religioso cristão.

Aqui o roteirista e diretor, ex-militar cristão, vindo dos sistemas ligados ao crime tanto em Minessota quanto em Los Angeles, David Ayer, nos faz outro filme em que mostra como o cristianismo é um importante valor para que o crime seja funcional.

Por trás dessa dinâmica aparece uma forte apresentação do ódio desse tipo de produção ao Estado de Bem-estar-social que se mostra na figura máxima de sua razão econômica, os coletores de imposto, protagonizados por David Cuevas (Bobby Soto) e Creeper (Shia LaBeouf, abusador sexual confesso e rosto que o ocidente prefere como herói que vai salvar a humanidade).

Os dois são as representações do que o neo-liberalismo acredita ser o Estado, são ambas pessoas que dividem uma espécie de “espiritualidade política” nos termos usados por Foucault em que justificam sua brutalidade sóciopata pela moralidade além-homem: coisa bem de criminoso, que é resumido na frase “correr pelo certo”. Todo o negócio deles é garantido por isso e por serem parte de famílias de criminosos.

O RESUMO DO QUE É A NOBREZA CRISTÃ, DESDE O IMPERADOR CONSTANTIN (272–337).

O equilíbrio de poder é afetado quando outra espiritualidade política ali aparece, na figura Conejo (Jose Conejo Martin), mestiço de africanos com mexicanos(?) que tenta tomar o poder da família de Cuevas usando para isso as religiões iorubas (em dado momento ele prepara um serviço religioso tomando cachaça “51” brasileira e fazendo rituais de sacrifício que lembram muito o de execução de galinhas).

ESSA É UMA MARCA DE DAVID AYER COMO DIRETOR E COMO ROTEIRISTA: A DE ACHAR QUE O NOVO PODER A SER COMBATIDO, O NOVO ESTADO REPUBLICANO, É CORPORIFICADO EM NEGROS QUE NÃO SEGUEM O CRISTIANISMO. ASSISTA ESQUADRÃO SUICIDA (2016) E OS REIS DA RUA (2008) PARA VER ISSO NELE COMO DIRETOR E ROTEIRISTA E DIA DE TREINAMENTO (2001 QUE ELE APENAS AGE COMO ROTEIRISTA) PARA CONFIRMAR ISSO EM SUA FILMOGRAFIA.

Isso explica eu entender bem sua linha de pensamento e porque a acho familiar: o enredo se baseia na lógica do crime notadamente latino-americano, que por sua vez é apenas simulacro e derivado do sistema de poder do senhor de escravo e de todo o sistema econômico criado para o tráfico de drogas colonial (aquele pó branco chamado açúcar).

SISTEMA DE PENSAMENTO QUE AO NÃO SER QUESTIONADO É TIDO COMO CERTO: OLHE EM SUAS REDES SOCIAIS AQUELES MEMES MOSTRANDO FAIXAS DE TRAFICANTES ORGANIZANDO SUAS COMUNIDADES PELA VIOLÊNCIA ACOMPANHADOS DE FRASES COMO “O CRIME É MAIS ORGANIZADO QUE O ESTADO”.

Quem concorda com isso, geralmente seja ele ateu ou não, não passa de um cristão em termos culturais.

NIETZSCHE AQUI CHORA E BENEDETTO CROCE RI.

Temos também até a figura de Deus, corporificada no pai de Cuevas que está preso, logo deduzimos que ele é uma espécie de Jesus. Outros negros aparecem, mas como estão alinhados a Cuevas, são tidos como aceitáveis.

APRENDA QUE O PODER NÃO SEGREGA PESSOAS DE MODO CATEGÓRICO ÚNICO, MAS SIM POR UMA COMBINAÇÃO DE IDEOLOGIA E UTILIDADE. ASSIM OS OPRMIDOS QUE APOIAM A OPRESSÃO SÃO “AGREGADOS” (PROCURE ISSO NA ECONOMIA).

RESPONDIDO FINALMENTE PARA VOCÊ PORQUE PARTE DOS OPRIMIDOS SE UNE AOS OPRESSORES?

Assim não se surpreenda porque os roteiros de Ayer e sua direção tocam os latino-americanos, ou porque esquerda e direita parecem atraídos pelo lumpen que é o crime do tráfico:

AMBOS ACREDITAM/FORAM FORMADOS PELOS SISTEMA DA SENZALA A COLÔNIA.