CORAÇÃO SATÂNICO [FILME ] (1987):

O Instagram de Tirésias.

Particularmente eu acho a filosofia grega clássica (VII a.e.c. a VI d.e.c. ) um exemplo de arrogância intelectual: um bando de homens ricos escravistas e guerreiros (critério ateniense, inclusive, para votação) que tinham dentro de si a noção que podiam entender o mundo inteiro daquela orla marítima em que se desenvolveram e que pretenderam inundar o mundo todo.

MAS O TEATRO DELES É BÁRBARO.

O teatro tinha a proposta de explicar a política econômica para aqueles que não participavam das decisões em si, os que não eram cidadãos, por meio da tragédia. Cada um dos personagens na verdade significa uma opinião, um ponto filosófico, que ajudava na fruição dessas decisões. O destino desses personagens é na verdade como o narrador julga tais opiniões.

ESSE É NA VERDADE A BASE DA METODOLOGIA DE RESENHA PRESENTE NO SOMBRIONAUTA: FAZER A ENGENHARIA REVERSA DESSE PROCEDIMENTO, CONHECIDA NUM JARGÃO MUITO FALADO, MAS POUCO APLICADO:

“POLITIZAR A ARTE”.

Aqui entendendo “politizar (explicar as relações econômicas e de poder dentro do conteúdo) e “arte” como cultura (projeção de valores subjetivos em outras mentalidades sociais) pop (discurso capitalista dado pelos meios de comunicação de massa para as massas proletárias)

ENTÃO, TAL QUAL O DIABO OU O MARX, PREFERE-SE NOTAR A “ECONOMIA POLÍTICA” QUE ESTÁ POR TRÁS DA ARTE NESSAS RESENHAS.

Dividido grosseiramente em tragédia, o “canto do bode”, em homenagem ao verdadeiro deus do medo grego, Pã (Dionísio para os Romanos) significava as lógicas econômicas dadas e que certas opiniões não poderiam ser negadas pois elas eram inevitáveis.

Essa “predição do futuro” (uma espécie de raciocínio de probabilidade, mais fácil de fazer quanto menor a complexidade do evento social analisado) era chamado em termos da literatura chamado In medias res: a ação começa pelo “meio” do debate e não pela narrativa evolutiva dada pelo cristianismo. Através dessa indução da curiosidade se dá a dedução da lógica.

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Esse raciocino trágico levou os gregos entenderem que seriam inevitavelmente destruídos.

SOMENTE ALEXANDRE (356 A.E.C — 323 A.E.C.), TERIA A HABILIDADE DIONISÍACA PARA LEVAR O PENSAMENTO GREGO PARA OS OUTROS BÁRBAROS.

Irônico. Essa palavra acima, aliás, resumo o outro lado do pensamento grego, malvisto entre eles e linguagem político apara os Romanos.

A COMÉDIA, OU A “NARRATIVA DOS COMUNS”: OU SEJA, A MENSAGEM DO ÓDIO, DO QUESTIONAMENTO, DOS PALHAÇOS E DOS DEMÔNIOS (QUE VEM DO TERMO “DAEMON”: “MENSAGEIRO”).

Mas como bem disse Bergson (1859–1941), Comédia é uma questão de proximidade: eu rio de alguém cair, mas não rio de minha própria queda. Quanto mais longe a tragédia, mais fácil rir dela.

ACHO QUE TODO MUNDO ENTENDEU O DESCASO E AS PIADAS COM OS MORTOS EM SINDEMIAS.

Existe o riso maduro também, o que ri de si mesmo, que procura achar na humilhação, a rejeição do poder aos níveis mínimos de sobrevivência e conservação de si mesmo. Esse riso se supera ao se estabilizar. Compreende sua dor e sua humilhação como escolhas dialéticas inevitáveis: aquele não filósofo definiu bem isso numa frase:

“O QUE NÃO NOS MATA, NOS TORNA MAIS ESTRANHOS”.

Então o riso leva os indivíduos a entenderem a si mesmo: a aceitação é outro problema. O riso demanda uma enorme compreensão de si, uma intelligentia (entendimento da organicidade social em que se insere e também ter a capacidade de mobilizar o que está disponível no ambiente). Rir é aceitar a vida em todas as suas humilhações e saber identificar isso em si e também em outros.

POR ISSO O DIABO RI O TEMPO TODO.

Nesse brilhante filme de Alan Parker (1944–2020) somos apresentados ao comediante alfa fazendo seu trabalho: o de levar os homens a se condenarem por meio de sua memória.

Harry Angel (Mickey Rourke) é um detetive particular (sempre “noir”, ou negro, como toda a narrativa de comédia moderna funciona) contratado pelo sempre em público e nunca visto Louis Cyphre (Robert De Niro) para encontrar um músico chamado Johnny Favorite ( ‘Deus perdoa seu favorito” literalmente, e, seu reverso comicamente).

A jornada de Angel em busca de Favorite é uma jornada literalmente pelo coração negro e molhado dos E.U.A e de seu duplo trágicômico: a música.

TODOS CANTAMOS O QUE NÃO SOMOS, GERALMENTE O TEMPO TODO. ISSO PODER SER LIBERTADOR OU NÃO, DEPENDE DE QUANTO VOCÊ APRECIA SE HUMILHAR.

Então a busca por Favorite leva Angel a confrontar as bases econômicas dos racistas descendentes de confederados: que sofreram um processo de simbiose com seus escravos e vieram a depender deles também culturalmente. Ele começa pelas habitações dos pretos, por seus bares, terreiros seus locais comuns, até chega a seus lares que tendem a inundar.

TIPO BOY INDO EM BAILE FUNK DE FAVELA, OU FUNK ESTADUNIDENSE, OU BLUES, OU RAP, OU TRAP, OU QUALQUER OUTRA COISA QUE PERIFERIAS ECONÔMICAS VÃO PRODUZIR.

Interessante o motivo da dívida com Cyfre: Favorite pediu ajuda numa questão de gravação para alavancar suas vendas como já talentoso músico. Cuidado com o Kondzilla (1988), rapaziada. Favorite fugiu sem pagar sua dívida a Cyphre e ele quer ser pago.

A GRAVADORA DEVERIA SE CHAMAR DON GIOVANNI RECORD’S, SUPONHO. SEGUE O FLUXO.

Aqui outra terrível base se apresenta: como o Irmão capitalismo se aproveita do sofrimento (atividade produtiva sem prazer epicurista) de seus oprimidos, também como produtos culturais, mas esse produto ainda sim é memória par rir de si mesmo:

A NÃO SER QUE SEJA BAKHITINIANO. PORÉM DEMANDA UM MATURIDADE ENORME RIR DE SI, SEM PERDER DIGNIDADE DO QUE SE É: PALHAÇOS, EMPRESÁRIOS E O TINHOSO SABEM DISSO.

Esses símbolos do que está acontecendo são o in media res: se você não os conhece, não os percebe, então não os enfrenta e é afogado por eles.

NO ENTANTO QUEM OS PERCEBE RI MUITO DE SUA IGNORÂNCIA, TIPO BELFAGOR VENDO DOUTORES DA CIÊNCIA POLÍTICA BRASILEIRA DEBATENDO FEMINISMO.

Ou Ulisses enfrentando Poseidon.

Todo o tempo Alan Parker está nos convidando a nos afogarmos.

E NÓS ACEITAMOS.

Como:

[LEIA A PARTIR DAQUI SE VOCÊ VEIO DE OUTRAS PLATAFORMAS]

Porque você pode ler três níveis de compreensão aqui: a religiosa, a racista e a econômica e outra que é as três, que é a compressão da relação das outras como um todo:

MÚSICO NEGRO (NO SENTIDO ECONÔMICO), NÃO SE VENDA AO CAPITALISMO, SEU OTÁRIO.

Lembre-se de seu passado: por isso as aparições de Cyphre sempre provocam um demarcador de volta no tempo: os ventiladores ao contrário.

O tempo todo a cultura negra é apresentada como satânica (adversária) mas ao mesmo tempo complementar ao pensamento branco (não existe liberdade sem escravidão, pobre Ulisses ao perceber essa dolorosa verdade).

Ulisses na ODISSEIA (VIII a.e.c) usa um método para deduzir como atacar seus adversários por meio de seu futuro (desejo) mas ele deve confrontar seu passado, simbolizado no terrível oráculo cego que muitos acham ser transexual, mas ele na verdade é o travestido Tirésias.

TIRÉSIAS VÊ O PASSADO SE REPETIR, ULISSES VÊ O DESEJO PRESENTE MUDAR O FUTURO.

TIRÉSIAS, PERCEBEMOS, NÃO ACREDITA EM HERÁCLITO (540 a.e.c — 470 a.e.c.)

Tirésias vê o fluxo do mundo como um ciclo (“econômico”? “algoritmo”?): ao ler o passado ele faz suas predições. Creio que a maioria das redes sociais faz isso.

E NOS APRISIONAM A GOSTARMOS SEMPRE DO QUE GOSTAMOS SEMPRE.

O IRMÃO CAPITALISMO COM SUAS DEMOGRAFIAS, FLUXOS MIGRATÓRIOS FORÇADOS A NUNCA NOS LIBERTARMOS DO MEDITERRÂNEO.

O DEBATE DE ULISSES E TIRÉSIAS É O DEBATE SE PODE HAVER UMA FORMA DE GOVERNOS (TALASSOCRACIA: GOVERNO DOS MARES) QUE FUNCIONE SEM ESCRAVIDÃO.

Ulisses gloriosamente desiste e aceita que Tirésias não pode ser de todo superado.

Com isso ele amadurece e pode retornar a seu lar.

OK VOCÊ PENSOU QUE A RELIGIÃO ALI DEBATIDA ERA A CRISTÃ?

ESTÁ CORRETO JOVEM ULISSES.

MAS A ECONOMIA É A GREGA.

E sobre esse padrão escravista e machista, foi baseada a economia dos E.U.A. e do próprio Irmão Capitalismo.

Parker sempre gostou da música negra, pois ele mesmos sempre se sentiu como Favorite.

ALGUÉM USANDO A MEMÓRIA DE OUTROS PARA ESCONDER SUA PRÓPRIA DANAÇÃO.

Como você amante da música periférica que vive no centro de São Paulo.