CINEMA PURGATÓRIO — VOLUME 02 [QUADRINHO] (2017):

Sombrionauta
4 min readMar 12, 2021

--

Todo o cinema não passa de uma piada contada pelo Karl Marx.

Um dos problemas das pessoas que conhecem o Alan Moore por obras como Wachtmen (1986–1987) ou V de Vingança (1982–1989) é que só conhecem essas obras mesmo. A fama do Moore depois foi propalada que ele é um gênio (é semelhante a dizer “não tente entender o cara”) quase hermético. Assim as pessoas parecem presas num ciclo vicioso de críticas à pessoa dele e não a sua obra, e os objetivos da mesma.

A parte difícil disso é que o Alan Moore gosta de pesquisar. Então ele fez, de novo, algo perverso com nerds como ele.

OS FEZ PESQUISAR.

Alan Moore é um nerd adulto. E isso é estranho para caramba. Ele escreve bastante para tentar eliminar certas metáforas e revelar o que é de adulto (economia) na cultura pop.

Isso é das chaves para entender Alan Moore: as vezes não é o que ele diz, mas o que ele propõe a repetir.

O que isso significa?

QUE O ALAN MOORE E SEU MELHOR PARCEIRO KEVIN O’NEILL ESTÃO TENTANDO DEMONSTRAR QUE A CULTURA POP NÃO PASSA DE CONSTANTES REMAKES E RECORTES DOS MESMOS COM ALGUNS CONTEÚDOS E ATORES NOVOS.

Aqui está o cerne de como o capitalismo tem se comportado em relação a seus adversários: ele discute suas premissas, justifica suas bases de maneira lógica e apresenta casos (reais, mas não gerais) de suas falhas.

Em Cine Purgatório então o que se discute é que o cinema trabalha com constantes reciclagens de seus temas originais, e com a ordenação das cenas e argumentos. Mas não só isso.

DISCUTE A TOXICIDADE DO MEIO, DE COMO OS TRABALHADORES DO CINEMA SE TORNAM ABUSADORES, DE COMO ESSA DOCE ARTE É VAZIA E BRILHANTE E QUE ESTAMOS TÃO ACOSTUMADAS A ELA QUE NÃO PERCEBEMOS O QUANTO ELA NOS FAZ MAL. É UM VÍCIO TORNADO LUGAR-COMUM E FORMA DE CARINHO.

COMO A INDUSTRIA DO AÇUCAR NO BRASIL-COLÔNIA.

Cada uma das histórias de Cinema Purgatório não são fantasias, mas sim uma mistura do pensamento do cinema junto com as pessoas que o criaram.

Nesse segundo volume, 03 Historias esmagam nossa capacidade de acreditar em uma cultura fílmica. Leia e depois pesquise os nomes que destaquei no Google e você está com as chaves para leitura da estrutura industrial por trás dessa história.:

O CREPÚSCULO DE UM REI: demonstra que as pessoas ligadas ao cinema em sua gênese, principalmente as ligadas ao cinema de épico de monstros stop-motion eram de fato pessoas monstruosas. Profissionais vindo do interior dos E.U.A que não tinham o menor escrúpulo em suas vidas pessoas sofrendo o mesmo revés de que Jasão sofreu de Medéia. A chave é pegar a biografia de Willis H. O’Brien.

OS MELHORES ANOS DE NOSSAS VIDAS: nesse pequeno conto vemos uma crítica feroz de Moore a todo o chamado “cinema introspectivo”, que seria o cinema de arte estadunidense (FEITICO DO TEMPO (1993) É UM EXEMPLO) , e como ele mesmo recicla basicamente um mesmo conto infantil natalino de 1892. Também demonstra que todas as atrizes estadunidenses estão se baseando em uma figura histórica que já foi par romântico de Steve Rogers. A chave é entender as referências a Abraham Lincoln.

Os IRMÃO WARNER: UM NOITE COM ADVOGADOS: se você achava que a Warner está sendo boazinha por causa da “demissão” de Pepé Le Pew, esqueça. Nessa história todas as falcatruas e acobertamentos de crimes feito pelos poloneses ex-integrantes do Império Russo irmãos Warner, sobretudo Jack Warner demonstram que os desenhos dessa produtora, Looney Toones, são em verdade referências a atores que situações que os próprios estúdios viveram. A Warner sempre foi ligada mais a esmagar seus funcionários do que criatividade de fato. Corrupção, aliança com militarismo americano e plágio são os verdadeiros garantidores de seu sucesso. O nome da história é a chave, mas a piada é conosco fãs. Uma boa história de groucho-marxismo.

Aqui, vemos contos de horror que seguem uma lógica semelhante a filmes de horror (recuperando o conceito do nome original do cinema de “”lanterna do medo”” e da “”fantasmagoria”” de Walter Benjamim), mais precisamente de Contos da Cripta (1989–1996): um narrador nos faz a introdução contos de horror/terror

Dito isso, quem acompanha a obra desse anarquista inglês sabe que ele empreendeu um ataque devastador aos donos da DC e todo o cinema por meio de uma coleção chamada Cinema Purgatório (2016-: Seguindo um sistema que pode ser acompanhado na série televisiva Empire (2015–2020) ele vai mostrando os bastidores basilares dos estúdios de cinema como a Warner e gêneros como o Western para demonstrar como em verdade toda essa produção não passa de constantes reciclagens de acontecimentos reais em forma romantizadas que tendem a esconder a corrupção Hollywoodiana e por extensão da indústria de entretenimento estadunidense e o chamado “”capitalismo cowboy””.

Como já disse algumas vezes, capitalismo é um baita de um sistema econômico safado. Ele produz animações de ótima qualidade para defender, bem montadas logicamente em suas premissas teóricas.

NO ENTANTO, SUAS PRÁTICAS SEMPRE MOSTRAM SUAS LIMITAÇÕES.

E se você não entender essa crítica, relaxe. Apenas você não é viciado, ou melhor, cinéfilo, ou melhor, nerd, ou melhor, fã do Alan Moore o suficiente.

--

--

Sombrionauta

Arcano Oliveira (André Moreira Oliveira) Historiador da cultura especializado em cultura pop. Podcaster do O Sombrionauta (um tanto lógico isso).