CASA DE PAPEL 5ª TEMPORADA — VOL. :01 (2021):

Sombrionauta
5 min readSep 7, 2021

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Esquadrão Suicida de Esquerda.

As pessoas esquecem que o Irmão Capitalismo é um sistema econômico e que as ideologias resultantes dele, são também reflexos econômicos. Essa é a teoria base de discussão marxista no que se refere à cultura como superestrutura da infraestrutura; isso talvez seja um dos fatores de fazer as pessoas esquecerem o ilegalismo ou anarcnoilegalismo, vertente, literalmente, mais explosiva do anarquismo.

Diferente do anarcossindicalismo, o anarcoilegalismo é basicamente composto de pessoas vindas do proletariado que se tornaram criminosos (convém não confundir com o lumpemproletariado, que abarcam trabalhadores informais e criminosos, mas estes não têm consciência de classe), mas que, devido a essa transição, tomaram consciência de classe.

Impiedosos, armados com uma ciência criada nos seus ambientes de trabalho (por isso a academia, seja de esquerda ou de direita, recusa o anarquismo como outra escola de pensamento iluminista: elitismo é uma coisa horrível), eles assassinaram nobres, presidentes e patrões por toda a Europa, América e Europa Oriental nos séculos XIX e XX: um deles Gavrilo Princip (1894–1918), assassinou o arquiduque Francisco Ferdinando (1889–1914), dando o sinal para a Primeira Guerra Mundial (1914–1918) (porque ela já estava armada e um assassinato não é o suficiente para essas coisas acontecerem).

Como disse certa vez, Set não se renderá.

SET NÃO SE RENDERÁ A OSÍRIS, HÓRUS, RAMSÉS (1279–1213 A.E.C), JESUS, ADOLF HITLER (1889–1945) OU QUALQUER OUTRO TIPO DE TIRANO SOLAR OU GOVERNO CENTRALIZADO QUE ELES JULGAREM ESTAR TRAINDO SUAS COMUNIDADES.

Casa de Papel é, na verdade, uma grande homenagem aos anarcoilegalistas.

ASSIM COMO QUADRINHO V DE VINGANÇA (1982–1988), DE ALAN MOORE (1953), TAMBÉM É.

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Mas essa homenagem tem suas especificidades, que denunciam alguns problemas nos próprios ilegalistas: o luxo.

O argumento básico ilegalista é “se eles podem, porque não nós”? Esse sempre vai ser um problema, porque essa vertente ilegalista tem a tendência a se afastar do proletariado, apesar de nutrir grande afeto por ele: contudo eles acabam por se tornarem adeptos de uma vida sem limites, devido ao constante stress de suas ocupações: tendem a gastar muito para relaxarem, o que os leva a roubarem mais, e continua esse ciclo, até serem mortos.

ISTO PORQUE ILEGALISTA PREFERE CAIR ATIRANDO DO QUE SER PRESO.

Eles sim, realizam a frase “nem pátria, nem patrão, nem deus, nem podridão”: são suicidas que não são melancólicos, nem estão depressivos, apenas não vão tolerar serem aprisionados e não temem o inferno, porque são da classe proletarizada, e sabem que deus é só um conto de fada para prisioneiros.

SE A ESQUERDA ENTENDESSE ISSO, INCLUSIVE A LENINISTA, SABERIAM QUE POSSUEM UMA GAMA DE COMBATENTES PERFEITA PARA ATACAR O IRMÃO CAPITALISMO EM SEUS CENTROS DE CONTROLE.

Falta mesmo uma Amanda Waller de esquerda. Ou não.

A morte de Berlin/ Andrés de Fonollosa (Pedro Alonso) é o melhor exemplo disso: ele é machista, homofóbico, arrogante, pretensioso, defensor da cultura europeia cristã, ladrão de casaca, pai discutível, porém, acima de tudo, um anarquista: não vai deixar seus companheiros morrerem se ele puder se sacrificar para salvá-los.

ESSE E O PONTO: TODOS OS PERSONAGENS DE CASA DE PAPEL SEGUEM ESSA LÓGICA: LEALDADE DE CLASSE EMPREGADA ACIMA DE SUAS IDENTIDADES, E MESMO, DE SUAS VIDAS BIOLÓGICAS.

Nesse primeiro volume da Quinta Temporada, somos apresentados às contrapartes capitalistas do ilegalistas, ou seja, tropas de elite que realizam operações negras:

LITERALMENTE, NESSA TEMPORADA, ESTAMOS VENDO UMA DISPUTA ENTRE UM ESQUADRÃO SUICIDA DE ESQUERDA X ESQUADRÕES SUICIDAS DE DIREITA E, TAMBÉM, DE FASCISTAS.

Só que se destaca uma figura, respeitada e temida, por ilegalistas e capitalistas:

O PROFESSOR /SERGIO MARQUINA/ SALVADOR MARTÍN (ÁLVARO MORTE).

Nessa temporada, O Professor foi imobilizado por sua inimiga natural, a mãe policial Alicia Sierra (Najwa Nirmr): cabem aos seus alunos e companheiros, não o salvar, e sim cumprir o plano; aquele que o mesmo traçou e que não precisa dele mesmo.

O papel então dele é mais gestar do que comandar: o anarquismo sempre tomou para si a palavra “gestão” mais do que “hierarquia”, coisa que a educação burguesa gosta de dizer que faz, mas não executa.

O Professor mostra então uma terrível nova figura o anarquismo, uma espécie estranha de “anarquismo burocrático”, não sei se estatal. Não confunda com Ancaps que trabalham para o Estado, por favor.

ELE MESMO SE MOSTRA DISPOSTO A SER SACRIFICADO SE SEUS COMPANHEIROS/ALUNOS FOREM SOBREVIVER.

Não é o sacrifício por uma causa, e sim, por sua célula anarquista: eles brigam muito, discordam, sacam armas, tem seus preconceitos (de classe ou não), mas acima de tudo, estão realizando um serviço para o bem do coletivo. Devem cumpri-lo então, mesmo que morram alguns no processo, para que os outros possam sobreviver. Quem já participou de greves, entende esse sentimento.

Aqui critico algumas concessões feitas ao capitalismo, coisa comum a continuações: esse negócio de “família” me soa estranho, e essas discussões de que pai abusador ainda é pai, me parecem inserções devido à algum pai safado produtor ter reclamado.

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As concessões a comunidade LGBTQ+ também não me parecem acertadas, uma vez que, não mostram o universo deles enquanto filhos do proletariado que não foram aceitos pelo sistema capitalista: as discussões que Manila/Júlia (Belén Cuesta) faz, são dignas de qualquer burguês liberal.

SENDO ASSIM, APRENDAM: NEM TODA A SÉRIE TEM A CORAGEM DE SER POSE (2018–2021), MEUS QUERIDOS, OU SEJA, DE APRESENTAR OS LGBTQ+ PELA ÓTICA PROLETARIADA.

Esse tipo de conservadorismo não me parece uma boa. Aquelas sequencias de amor romântico também me parecem bobas, coisa de quem quer dizer “os bandidos também amam e querem apenas serem integrados”.

Bobagem, o próprio segundo assalto deixa claro que o único jeito de serem aceitos é se tornarem os soldados que os estão combatendo dentro do Banco da Espanha, e isso é intolerável perante a dignidade deles:

ANARQUISTAS ILEGALISTAS NÃO SE RENDEM, NEM MESMO POR AMOR: TÓQUIO/ SILENE OLIVEIRA (ÚRSULA CORBERÓ) SABIA DISSO.

E se Set (na versão dos faraós) existisse; sorriria para ela.

SE GOSTOU DESSE TEXTO, 50 PALMAS SERÃO BEM VINDAS, POR FAVOR.

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Sombrionauta

Arcano Oliveira (André Moreira Oliveira) Historiador da cultura especializado em cultura pop. Podcaster do O Sombrionauta (um tanto lógico isso).