A FOTOGRAFIA [FILME] (2020):
Bons filmes sobre relacionamento entre pessoas negras são difíceis pois pessoas negras tem vidas difíceis.
Mas não é assim atualmente.
A melhora econômica promovida por meio da indústria musical e da melhora da educação dos negros tem criado uma classe média alta negra que agora tem tempo para sublimar suas próprias relações amorosas.
Aqui temos como pessoas negras de classe média alta, filhas da classe pobre se relacionam em temos íntimos.
Toda a narrativa passa pelo romance entre um casal Mae Morton (Issa Rae) e Michael Block (Lakeith Stanfield), ela especialista em fotografia, filha de uma fotógrafa de origem pobre Christina Eames (Chanté Adams); ele um jornalista. Ambos são de Nova York.
O drama aqui é o de sempre, pelo menos para a classe trabalhadora, que os negros fazem parte, mas esquecem:
PROFISSÃO OU AMOR.
Essas opções para quem tem dinheiro não existem ou são eclipsadas quando se é branco, mesmo pobre.
QUANDO SE É NEGRO É A DEFINIÇÃO DE SUA EXISTÊNCIA HUMANA.
Assim a discussão é sobre como mulheres negras tem de criar condições melhores para as próximas mulheres.
SEM ESSE MISTICISMO AFRICANO QUE ABRAÇA ANCESTRAIS MÍSTICOS E ESQUECE A SUA FAMÍLIA REAL EM SUA CASA.
Coisa de classe média boba.
Seguindo: o filme é um debate de como mulheres negras devem decidir e em que condições elas decidiram entre amor e trabalho, de como o segundo era ora mais importante, para defini-las como mulheres.
Em verdade é um filme sobre mulheres que devem perdoar mulheres, principalmente suas mães, de como elas eram cruéis não para destruí-las mas para libertá-las do mundo em que elas mesmas estão presas.
Lembro de uma história de minha família em que uma mulher mais velha disse a mais nova que deveria deixar o local semelhante a Louisiana (terra de origem de Christina Eames) pois sabia que naquele lugar ela estaria condenada a repetir a história da mais velha.
COMPREENSÃO DO TEMPO COMO GEOGRAFIA: GENTE POBRE ENTENDE ISSO MELHOR QUE MUITO HISTORIADOR.
Christina Eames é a mulher mais nova. Ela deixa o seu amor em busca de si mesma, em busca de uma geografia que ela possa ser ela mesma.
Mas essa escolha a aleijou sentimentalmente a vida toda.
Tal qual todos os emigrantes nordestinos, seus sentimentos foram transformados em pragmatismo pela sobrevivência e finalmente em uma contenção de si que muitos confundem com frieza.
SOFRERAM E CONTINUAM SOFRENDO POIS É TARDE DEMAIS PARA ELES.
MAS NÃO PARA SEUS FILHOS.
Mae Morton deve entender isso, entender a dor de sua mãe, entender que sua mãe temia amar por considerar ter falhado, que era uma fantástica fotógrafa por não conseguir expressar em palavras todo o amor que ela sente e que sente que é indigna de expressar.
MAE MORTON DEVE ACEITAR QUE NÃO É SUA MÃE E NÃO ESTÁ PRESA AS ESCOLHAS DELA.
Um difícil aprendizado: não se libertar de sua mãe, e sim aceitar que ela nunca a prendeu.
Christina Eames sacrificou o amor que sentia para ser ela mesma, e com isso, sua filha teve melhores opções de vida. A todo momento a cultura musical negra norte-americana aparece destacando que essa estranha arte combinada com a fotografia, essa melancolia dolorosa de um mundo que não existia e que precisou ser criado, criou a consciência de classe dos negros.
O SACRIFÍCIO FOI FEITO E AS PESSOAS ESCOLHERAM SUAS EXISTÊNCIAS ÍNTEGRAS AINDA QUE ALEIJADAS. OU AMOR OU PROFISSÃO, OS DOIS NÃO ERAM POSSÍVEIS NA MAIORIA DAS VEZES.
Escolhas assim foram e ainda são verdade para os negros pobres e trabalhadores miseráveis.
PARA A CLASSE MEDIA NEGRA É NECESSÁRIO ABRAÇAR OS DOIS.
NÃO DESONRE SEUS ANCESTRAIS FINGINDO QUE ISSO NÃO É POSSÍVEL.
